Eu conheci o Parque Shangai
Eu era bem criança e São Paulo já tinha muitos lugares para se divertir. Naquela época, lá por volta de 1960, nem desconfiávamos que um dia poderia existir Shopping Centers, parques temáticos ou cousa que o valha.
A coisa mais parecida com Shopping naquela época, era a Exposição Clipper. Era uma grande loja, com vários andares, onde tinha muitos produtos, roupas, uma seção só de brinquedos e uma lanchonete.
Quando nossa mãe falava que iamos até lá e quando lá chegávamos, eu e minha irmã, corriamos logo para a seção de brinquedos e era uma alegria só. E como era gostoso o mixto-quente com aqueles sucos aguados que ficavam nuns recipentes transparentes, que jorravam tipo uma fonte, caindo e descendo, coloridos e que davam água na boca.
Era uma época dura, não tinhamos a comodidade e as facilidade que se tem hoje.
Refrigerantes (ou refresco como era chamado) era coisa pra poucos. Aliás só existia o Guaraná, Tubaína e Seven-Up. Ah ! tinha também uma tal de Caçulinha, muito doce e deliciosa. A Coca demorou muito a aparecer, primeiro veio a Crush, que era de laranja e bem cítrica. Doces só existiam aqueles de "venda". Ficavam um vitrine de madeira e vidro, onde os doces eram armazenados ali por vários dias. E não tinha esse negócio de "validade". As marias-moles ficavam até duras, naquela vitrine, onde batia sol e sem ventilação vai se saber quanto tempo elas aguentavam. Mas mesmo assim, os doces eram deliciosos, pelo menos para as crianças.
Aqui na zona leste, tem uma avenida que vai até o centro da cidade. Hoje é chamada de Alcântara Machado, mas na época Radial Leste. Alás, um pouco antes do Parque tinha um cinema bem grande. Chamava-se cine Roma. Meu pai trabalhou lá. Agente ia direto lá assistir a filmes, afinal o dono deixava os parentes dos funcionários entrarem de graça. Quantos filmes em cinemascope, som estéreo, na época uma grande novidade, os filmes eram bons, sem violência, não é como hoje. Agente chegava até a assistir os filmes lá de cima, na sala de projeção. Tinham dois projetores. Aí o maquinista (que era o rapaz que trocava os rolos de filmes), ele ficava de olho no canto direito da tela, quando aparecesse uns xizinhos, risquinhos bem discretos, tava na hora de ligar o outro projetor com o outro rolo de filme. Cada filme tinha diversos rolos. Às vezes ele se distraia, aí acabava o filme e a tela ficava toda branca. Eram vaias e assobios na platéia, mas quando voltava o filme alguns aplaudiam.
E no final desta avenida, bem onde hoje é o parque D. Pedro, tinha o Parque Shangai.
Nós fomos lá diversas vezes, tinha de tudo que um parque tem, era muito divertido. Roda gigante, barcos, carros, trens, tiro ao alvo, etc. Não sei nem quando nem como o parque desapareceu. Mas a feliz lembraça ficou em nossas mentes.
São Paulo tinha muitas ruas de terra, como é na periferia hoje. A maioria dos carros eram importados: Chevrolets, Fords, Austins, Buicks, só tinha o fusquinha de nacional, depois vieram os Simcas, os DkWs e os Gordinis. E quando os carros passavam, faziam aquela poeira lembrando as cidades do interior.
Fotografia naquela época era com filme, preto e branco e colorida, mas tinha que mandar revelar e demorava alguns dias.
Oi pessoal.
